Com a exposição Ninguém termina na ponta dos dedos, de Sandra Valle, começa um ciclo expositivo co-programado pela Galeria Imago Lisboa e o Instituto de Produção Cultural e Imagem (IPCI) que vem reforçar a parceria entre as duas instituições. Três momentos expositivos em que convidamos três artistas que desenvolveram o seu projeto no Master em Fotografia Artística.
A inauguração será no sábado 21 às 18 horas, um ato no que estará presente a artista; Rui Prata, diretor da Galeria Imago Lisboa; Alexandre Souto, diretor do IPCI e Vítor Nieves, curador da exposição.
Para este ciclo expositivo quisemos criar um percurso no qual o/a espectadora transitará ao longo deste primeiro semestre de 2023 e que começa com o trabalho que temos em Sala. Para isto, tivemos em conta não só o espaço e a sua localização, mas também a próxima exposição programada que, por motivos de agenda, se intercala com as exposições co-programadas pela Imago e pelo IPCI.
Assim, por um lado, o nosso trabalho pivotou entre a adequação ao Cubo Branco e o público-alvo do espaço e, por outro, na criação de um diálogo com a exposição seguinte, tentando abraçar o trabalho de João Mota Costa, Angústia, criando uma narrativa transversal ao tempo e aos momentos expositivos marcados no ritmo mensal, habitual na programação galerística.
Uma narrativa que começa na frieza analítica de Sandra Valle que, parafraseando os futuristas, adianta-se a uma sorte de tempos vindouros que desumanizam as cidades e, portanto, a sociedade. Um trabalho com landscapes escultóricas nas quais a ausência de cores enfatiza a crueza da realidade que a autora prognostica. Com este dilacerante começo, só nos cabe ir em contramão, recuando desde esse discurso para uma meta mais emocional, por um caminho humanizante. Embora essa ligação com o escultórico também esteja presente na obra de João Mota Costa, que parece apresentar-nos imagens distantes do que definimos como inexoravelmente humano. Apesar disto, os espaços esvaziados de elementos vivos ficam embrulhados numa atmosfera latente que nos traslada para o plano emocional, como o próprio título indica.
Conforme avançamos neste ciclo, esses estados emocionais medram, aproximando-nos de discursos que saem do pessoal, do íntimo. Para meados de Abril, Ana Rego traz-nos um projecto no qual se apropria de memórias alheias que torna próprias por estarem atravessadas pelo vínculo familiar. Não poder viver senão uma vida é um ensaio visual poético e interdisciplinar entre arte e ciência, que aborda a dualidade corpo-mente e o significado de estar vivo quando se é totalmente privado de autonomia e capacidade de comunicação.
Em sintonia com essa apropriação de memórias, virá a seguir a exposição de Philipe Gabriel, Pele, que, através da intervenção de fotografias vernaculares encontradas na Feira da Ladra, relata uma relação materno-filial com concomitâncias autobiográficas. A relação que estabelece com as imagens desenvolve aprendizagens da sua infância com o intuito de as desaprender. Nas palavras do artista: «costurei sobre as imagens a dor de nascer estrangeiro num corpo de pele arranhada».
A exposição Ninguém termina na ponta dos dedos, de Sandra Valle pode visitar-se até o dia 18 de fevereiro na Galeria Imago Lisboa, na Rua do Vale de Santo António 50C de Liboa, de quarta a sábado das 14.30 às 18.30 h.